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Palco é o lugar certo para a poesia da loucura

<p>Trabalho realizado em grupo de teatro, formado por atores com sofrimento mental, é referência em Belo Horizonte</p>



Créditos da imagem:
Main frog sound carnaval 2014  foto gabriel barreto
Redação Sou BH
12/08/14 às 13:38
Atualizado em 01/02/19 às 19:11

Criativo, produtivo, capaz, feliz ? ?Ainda que Tan Tan?. A analogia, feita com o nome da Escola de Samba famosa por seus desfiles em dias de celebração da Luta Antimanicomial, celebrada no dia 18 de maio, caracteriza bem o trabalho do Núcleo de Criação e Pesquisa Sapos e Afogados. ?Não trabalhamos em busca de fama, mas para mostrar que as pessoas com sofrimento mental são potencialmente criativas e importantes para a sociedade?, é como Rogério Pereira, 47, define o esforço do grupo de teatro criado em 2002. 

Integrante do projeto desde sua criação, o ator revela que a arte mudou sua vida, sua forma de ver o mundo e, hoje, atuar é uma terapia que ele faz com gosto. Essa sensação de se encontrar, da qual Gomes fala, tem relação com o que os ?Sapos? representam na vida de cada um de seus integrantes. De acordo com Juliana Barreto, atriz e diretora do Núcleo, eles trabalham juntos na intenção de que o grupo seja um lugar de encontro, de pessoas que foram excluídas, e principalmente onde caiba a diferença. 

Convidada para trabalhar com portadores de sofrimento mental há doze anos, a diretora foi feliz em propor um novo formato de trabalho para os artistas. ?Eles já faziam oficinas de dança e teatro, mas com um viés terapêutico. Começaram então, a trabalhar como atores de verdade?, explica. 

Para quem se pergunta sobre as dificuldades que Barreto enfrenta, em direcionar um grupo que, como ela mesma diz, ?foge à lógica e subverte um pensamento clássico de construção da dramaturgia?, a atriz revela: ?Esse trabalho tem algo de leve. É inevitável ver a loucura em sua densidade. Mas é bom ver que se pode apresentá-la como algo mais leve. Entender que a loucura tem sua poesia, sua beleza e seu espaço?. 

De lá pra cá, foram muitas as conquistas dos 13 atores, que se mantêm no grupo (incluindo os ?flutuantes?), e dos outros nove que em algum momento passaram por ele. Foram realizados dois espetáculos teatrais (?Caixa Preta? e ?Duo?), três curtas metragens (?Sapos e Afogados?, ?Material Bruto? e ?Cinema de Visibilidades Íntimas?), uma residência artística (Casa Breve) e inúmeras performances. 

E os planos de crescimento não param por ai. Recentemente os ?Sapos? lançaram uma campanha na Catarse para conseguir um financiamento coletivo. Com o resultado da campanha e o apoio de parceiros, o grupo tem a intenção de viajar para a Holanda ainda este ano. Lá, colherão material para gravar um filme. A ideia é fazer um trabalho documental baseado na vida do pintor Van Gogh e misturar com a história de Edmundo ? integrante do projeto. 

Ainda de acordo com a diretora Juliana Barreto, a capital mineira é considerada cidade referência no tratamento substitutivo de pessoas com sofrimento mental. Por isso, o ?Sapos e Afogados? foi convidado a desenvolver um piloto para o Projeto Vidas Paralelas. O resultado do trabalho será exposto durante a festa que colorirá as ruas de Belo Horizonte, na próxima segunda-feira (19). 

Celebração

Celebrado no dia 18 de maio, o Dia da Luta Antimanicomial, será comemorado em todo o país, já que faz parte do calendário nacional. Em Belo Horizonte, a festa acontece no dia 19 de maio, segunda-feira, na Praça da Liberdade. Confira programação

fGrupo de Teatro foi criado em 2002 e agora faz planos para lançamento de filme sobre a vida de Van Gogh.
Foto Gabriel Barreto