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Mais de 40% dos brasileiros preferem ficar 24h sem água e luz do que longe do celular

Abstinência, ansiedade, descontrole e outros sintomas afetam as pessoas viciadas em internet



Créditos da imagem: Banco de Imagens/Shutterstock
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Redação Sou BH
28/03/18 às 18:48
Atualizado em 01/02/19 às 19:28

Por Júlia Alves

Cerca de 69% dos brasileiros com acesso à internet passam mais tempo no WhatsApp do que vendo televisão ou lendo jornal. Já 70% das pessoas com um smartphone no país acreditam que passam tempo demais conectados. Porém, mesmo com esse dado, 65% afirmam que sempre – ou com muita frequência – usam o aparelho antes de dormir. 

No início deste ano, a Organização Mundial de Saúde (OMS) iniciou a atualização da classificação de certas doenças mentais. Em um desses tópicos foi incluído o vício em jogos e em celulares. De acordo com os médicos que participam do grupo de pesquisadores da organização o uso abusivo da internet, celulares, computadores e jogos de videogame teve um aumento exponencial nas últimas décadas, dando origem a casos registrados de consequências negativas à saúde dos usuários. O que deixa os especialistas da área em alerta.

Para a psicóloga Suzana Veloso, essa é uma questão que merece atenção e por isso estão sendo criadas novas nomenclaturas e doenças para categorizar esses distúrbios. “Estamos exercendo mais contato com as pessoas pela internet do que fisicamente. O contato humano está diminuindo muito rapidamente, e isso se deve principalmente à facilidade do acesso às redes sociais”, comenta em entrevista ao
SouBH.

Com o aumento do acesso à internet também se agrava o número de pessoas que não conseguem sair dela. “O vício é uma compulsão, há uma falta muito grande de algo, uma angustia que precisa ser aplacada. Como em qualquer outro vício, as pessoas precisam preencher essas faltas”, afirma a psicóloga. Para ela, a pessoa que possui uma compulsão, seja por celular, internet ou redes sociais, apresenta uma visão positiva de si mesmo, “o viciado não acredita que está doente”.

Os números não mentem

Quantas vezes por dia você acessa suas redes sociais? Você consegue ficar sem o celular por muito tempo? E sem internet? Com a presença constante e irreversível da internet em nossas vidas, o uso dessa ferramenta acaba deixando de ser um lazer e se torna um vício. Afinal, os 98% de brasileiros com smartphones que possuem o WhatsApp entre seus principais aplicativos estão se tornando cada vez mais comuns.

E os entrevistados não desmentem a preocupação da OMS, já que 42% dos internautas brasileiros preferem ficar 24 horas sem água ou energia do que sem celular. Além disso, 97% dos usuários que possuem o aplicativo de mensagens afirmam utilizar a ferramenta todos os dias. Um crescimento bem grande em relação ao ano anterior, com 84,7%.

As pesquisas foram realizadas pela
Opinion Box em parceria com a Mobile Time, e abordaram brasileiros com acesso à internet e que possuem um smartphone, respeitando gênero, idade, renda mensal e distribuição geográfica do grupo entrevistado.

O vício no dia a dia

A fotógrafa Vitória Fontes Rogério, 17 anos, é um exemplo daqueles que não conseguem ficar sem seu celular. “Quando acordo, a primeira coisa que eu faço é pegar o celular. Devo ficar umas 22h online”, afirma a jovem, que, mesmo com o tempo gasto
 no celular, conseguiu ter uma história com final feliz proporcionada pela internet. A adolescente conheceu sua namorada, a estudante Ana Carolina, pelo Tinder, um dos mais populares aplicativos de relacionamento do mundo.

Como a Vitória, 41% dos entrevistados afirmaram que não vivem sem o seu celular, enquanto 70% admitiram que usam o aparelho de forma excessiva, e 51% ficam nervosos ou ansiosos quando acaba a bateria do telefone.

De acordo com a psicóloga Isabella Trindade, o vício é uma perda de controle que pode gerar uma grande ansiedade. “O vício é algo compulsivo, a pessoa perde o controle e a noção de limite. A internet possui vários mecanismos que trazem esses problemas à tona”, afirma
. Para a psicóloga, as redes sociais podem ser a principal vilã por trás dessa ansiedade coletiva. “A rede social é uma vitrine, e isso pode gerar uma ansiedade, uma depressão nos usuários por não conseguirem atingir esse patamar imposto por outros e pela sociedade na internet”, completa.

Enquanto uns não ligam para a falta das redes sociais, a exemplo do professor Adolfo Borges Santos, 32 anos, que perdeu o aparelho recentemente e está sentindo a liberdade de não estar mais preso ao vício. Outros não podem viver sem, como Lauro Teixeira, 22 anos. O empresário belo-horizontino não pode ficar fora do celular ou das redes sociais, seja para o lazer ou para o trabalho.

Segundo Suzana Veloso, a nossa sociedade está muito apegada a esses vícios que a internet pode criar, muitas vezes sem notar. “As pessoas são muito imagéticas. A imagem do momento, o que é atraente, o que vende e gera ‘likes’. Por isso, a pessoa infeliz e depressiva é levada a criar uma fantasia para suprir essa ideia da sociedade e atender essa necessidade de atenção”.