Espaços de convivência, socialização, atividades comerciais e manifestações culturais, as praças sempre foram consideradas um ponto público de grande importância para as pessoas e as cidades. Contudo, quais contornos esses locais ganham quando um evento de impacto mundial impede as pessoas de saírem de casa? O que acontece quando os elementos vivos são retirados das praças? Esses e outros aspectos arquitetônicos, culturais e urbanísticos serão discutidos pela Casa Fiat de Cultura e pelo Consulado da Itália em Belo Horizonte, com apoio do Istituto Italiano di Cultura San Paolo, na exposição virtual de fotografias “As Praças [In]visíveis”, em cartaz de 13 de julho a 12 de setembro.
Na Itália, em Minas Gerais ou em qualquer lugar do mundo, a pandemia transformou o burburinho dos grandes centros urbanos em imensidão de silêncios, despertando um jeito diferente de enxergar as paisagens e a descoberta de diferentes desenhos da cidade. Com as praças, não foi diferente. Cenários simbólicos da convivência humana, elas ficaram, de repente, vazias. A mostra “As Praças [In]visíveis” propõe novo olhar sobre esses ambientes, ao reunir textos e imagens de 42 escritores e fotógrafos italianos, em diálogo que conecta cultura, beleza e cenários históricos, para revelar monumentos arquitetônicos que são verdadeiras obras de arte.
Ao perder, ainda que momentaneamente, a
função social, as praças ganharam destaque sob outros aspectos, especialmente o
arquitetônico. As linhas, os desenhos e os contornos deixam de ser moldura e se
tornam primeiro plano, numa espécie de quadro visto de cima. Para destacar a
beleza desses lugares, a exposição virtual “As Praças [In]visíveis” apresenta
21 fotografias autorais, acompanhadas de textos originais de escritores que têm
alguma ligação com os espaços. As obras evocam memórias e experiências, em um
convite para a reflexão sobre como nos relacionamos com os espaços urbanos de
nossas cidades. As fotografias e os textos podem ser contemplados no site da
Casa Fiat de Cultura, por meio do hotsite criado
especialmente para a mostra. Além dos registros autorais, a página conta
com podcasts sobre as praças e um catálogo para download.
Para o presidente da Casa Fiat de
Cultura, Fernão Silveira, abordar os espaços de convívio social e
materialização da cultura e identidade de um povo, sob nova ótica, tem um valor
especial. “A exposição virtual ‘As Praças [In]visíveis’ pretende mudar nosso
olhar rotineiro em relação a esses espaços públicos, para observarmos o que
está por trás deles. Quando o foco de nossas lentes está nas estruturas
arquitetônicas, podemos perceber que, na verdade, vivemos em um verdadeiro
museu a céu aberto, acessível a todos, e que precisamos vivenciar essa arte”,
analisa.
Cônsul da Itália em Belo Horizonte, Dario
Savarese ressalta o caráter de encontro e centro de vivência política,
econômica e social desses espaços para as cidades italianas: “Com a perda de
sua função principal, as esplêndidas praças italianas, imortalizadas nesta
exposição, nos convidam a fazer uma sugestiva viagem virtual em sua beleza,
estimulando reflexões sobre esse momento único, por meio de histórias delicadas
e íntimas”.
Marco Delogu, fotógrafo e curador da
mostra, aponta que uma sensação de expectativa e suspensão envolveu lugares e
as pessoas que os ocupavam, desde março de 2020. Pela primeira vez, as praças,
símbolos de difusa beleza italiana, tornam-se lugares imaginários.
Ele conta que decidiu, então, unir fotógrafos e escritores, para criar
histórias próprias e muito representativas. “A relação entre fotografia e
literatura é longa e repleta de excelentes resultados. Este projeto é um
exemplo disso, respeitando a autonomia das duas linguagens, trabalhando na
tênue fronteira, em que os limites são abertos, e reforçando a relação entre
visões diferentes”, explica.
O historiador britânico Joseph Rykwert
também deu contribuições à mostra. Segundo ele, a Itália é considerada o país
das 100 cidades. E, em cada uma delas, há uma praça, especialmente nas mais
antigas, desempenhando um papel notável para a sociedade. Ele defende que,
embora haja perda de essência com os esvaziamentos populacionais dessas praças,
o espaço vazio “oferece uma oportunidade única de ver suas geometrias complexas
e a própria estrutura, que a multidão diária tantas vezes esconde”.
A exposição “As Praças [In]visíveis” é uma
realização da Casa Fiat de Cultura e do Consulado da Itália em Belo
Horizonte, com apoio do Istituto Italiano di Cultura San Paolo e do
Ministério do Turismo, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura,
patrocínio da Fiat e do Banco Safra, copatrocínio da Expresso
Nepomuceno, da Sada e do Banco Fidis. O evento tem apoio institucional do
Circuito Liberdade, do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico (Iepha), do
Governo de Minas e do Governo Federal, além do apoio cultural do Programa
Amigos da Casa, da Brose do Brasil e da Brembo.
As Praças [In]visíveis
“As Praças [In]visíveis” apresenta 22
praças, em 21 fotos e 23 textos. Todo o material é original, criado
especialmente para a exposição.
Piazza del Popolo, Roma
Uma das praças mais importantes e
populares de Roma, fruto de várias intervenções por parte dos pontífices, que
fizeram modificações e reestruturações ao longo dos anos. A praça teve sua
configuração atual somente no século XVIII, e é cercada de prédios históricos,
duas fontes e igrejas.
Piazza San Marco, Veneza
Única praça de Veneza, a San Marco é um
dos poucos espaços urbanos em toda a Europa, em que as vozes das pessoas é
maior do que o som do tráfego motorizado. É comum que a praça fique submersa
pelas águas do Mar Adriático, já que é o local mais baixo da cidade. Apesar
disso, sempre esteve apinhada de gente, admirando sua beleza e participando da
vida cultural da cidade.
Piazza Navona, Roma
A Piazza Navona já foi um dos antigos
estádios da Roma Antiga, e, apenas no século XV, começou a ganhar as
características que tem hoje. Conta com três fontes: Quatro Rios, Fonte do
Mouro e Fonte do Netuno, que são as maiores atrações do local.
Piazza Santa Croce, Florença
Cercada por palácios ilustres, como a casa
Chiavacci, o palácio de Maffeo Barberini e a casa de Galileu Galilei, a Piazza
Santa Croce abriga a maior igreja franciscana do mundo. Quem passa por lá
também pode contemplar o monumento a Dante Alighieri, autor de “A Divina
Comédia”, esculpido em 1865, por Enrico Pazzi.
Piazza di S. Maria in Trastevere, Roma
Uma das mais antigas igrejas de Roma dá
nome à Piazza di S. Maria in Trastevere. A praça, que já foi refúgio de
soldados romanos aposentados, tornou-se reduto de artistas que, aos pés da
antiga fonte que faz parte da arquitetura do local, esperam pelo pôr do sol.
Piazza Carignano, Torino
Rodeada de edifícios barrocos, a Piazza
Carignano é um dos lugares simbólicos de Torino e uma homenagem à família
Savóia-Carignano. No centro da praça, como podemos ver na foto de Eva
Frapiccini, quase que camuflado ao fundo, tem-se uma estátua dedicada a
Vincenzo Gioberti, um patriota e filósofo italiano do século XIX.
Piazza Baldaccio, Anghiari
Com características medievais, a Piazza
Baldaccio está entre as regiões de Toscana, Umbria, Emilia Romagna e Marche. A
praça é rodeada de lojinhas, uma osteria e alguns charmosos cafés, e abriga uma
escultura de Giuseppe Garibaldi, que fica de frente para a sua principal
entrada.
Piazza del Duomo, Catania
A Piazza del Duomo leva esse nome por
causa da Catedral de Santa Ágata (duomo é a palavra italiana para
catedral). Ao centro da praça, encontra-se a Fonte do Elefante, monumento
composto de pedra vulcânica. Espaço de encontro e de descanso, a praça também é
caminho para os eixos históricos de Catania, incluindo a rua Vittorio Emanuele
II, que atravessa a cidade.
Piazza della Signoria, Firenze
Piazza della Signoria é a praça central de
Florença. Construída em formato de “L”, é rodeada de prédios históricos e
monumentos, o que confere ao espaço o status de galeria de
arte ao ar livre. Lá se encontra, por exemplo, uma reprodução do famoso
“David”, de Michelangelo, com mais de cinco metros de altura, e a Fonte de
Netuno.
Piazza del Popolo, Todi
A Piazza del Popolo fica no ponto mais
alto da cidade e conta com um dos mais interessantes complexos medievais da
Itália. A praça é cercada por prédios históricos e, embaixo dela, há um sistema
de cisternas que data do período Romano.
Piazza del Duomo, L’Aquila
A Piazza del Duomo é a sede episcopal
da Arquidiocese de L'Aquila. É a sede de poder religioso e, também, a praça
mais importante da cidade. É palco dos principais eventos realizados em
L’Aquila e abriga catedrais e duas pontes monumentais, de autoria do escultor
Nicola Dantino.
Piazza Sebastiano Satta, Nuoro
Projetada na década de 1960, pelo artista
plástico Constantino Nivola de Orani, a Piazza Sebastiano Satta homenageia o
poeta homônimo. A obra arquitetônica realça as características geográficas e
culturais do interior que foram simbolicamente incorporadas pelo poeta e
imortalizadas em seus versos.
Piazza Baracca, Lugo
A Piazza Baracca é uma homenagem a
Francesco Baracca, aviador da Primeira Guerra Mundial, que pintou um cavalo
empinado no avião – imagem que passou a ser usada pela Ferrari, em 1932. Ao
centro da praça, um monumento elaborado por Domenico Rambelli representa
Baracca, em uma estátua de bronze com quase seis metros de altura.
Piazza dei Martiri, Carpi
Uma das maiores praças da Itália, a Piazza
dei Martiri foi elaborada no período renascentista. O nome atual é uma
homenagem à memória de 16 pessoas massacradas no local, no período do fascismo.
Tem um pórtico margeado por 53 colunas e a igreja de Santa Maria Assunta.
Piazza Sant’Antonio Nuovo, Trieste
Considerada o coração da cidade, a Piazza
Sant’Antonio Nuovo abriga a igreja ortodoxa Sérvia de Santo Spiridion
Taumaturge e a Igreja Diocesana de Santo Antônio Novo. Além do aspecto
religioso, atualmente, a praça é famosa por bares, restaurantes e mercados.
Piazza del Popolo, Ascoli Piceno
Após um período de abandono, a Piazza del
Popolo foi remodelada no século XVI. As diversas restaurações, feitas ao longo
dos anos, basearam-se em princípios de elegância, proporção e harmonia. A praça
é toda feita em mármore travertino e está rodeada de construções
renascentistas.
Piazza delle Carceri, Prato
A Piazza delle Carceri tem, como destaque,
uma basílica – que dá nome à praça – e o Castelo do Imperador. O espaço é um
exemplo de arquitetura medieval e renascentista, com linhas geométricas e amplo
espaço aberto.
Piazza Benedetto Brin, La Spezia
Piazza Benedetto Brin tem esse nome por
causa do próprio fundador. No século XIX, Brin criou o maior arsenal militar do
reino. Em volta, foi construída uma cidade e, ao centro, a praça. No século XX,
o local ganhou novos elementos arquitetônicos, como as torres sineiras da
Igreja de Nossa Senhora da Saúde, que fica nesta praça. Ainda hoje, recebe
muitos visitantes, que passam por lá para apreciar suas lojas e cafés.
Piazza Vittoria, Napoli
O nome da Piazza Vittoria faz alusão à
Batalha de Lepanto, de 1571 – conflito naval entre cristãos e turcos. A Igreja
de Santa Maria da Vitória, construída em 1572, é um agradecimento dos cristãos
pela vitória. Além dos elementos arquitetônicos e históricos, a praça é um
importante centro de transporte urbano, com rede de bondes que cruzam a cidade.
Piazza San Nicola, Bari
A Piazza San Nicola abriga a igreja de
arquitetura românica de mesmo nome, datada do século XII. Até hoje, a igreja
preserva relíquias de São Nicolau de Myra, figura que deu origem ao Papai Noel.
Entre os detalhes ornamentais do edifício, é possível encontrar entalhes com
influência árabe, bizantina e clássica.
Piazza Duomo, Milano
Local que abriga a famosa Catedral de Milão – uma das mais belas catedrais góticas do mundo –, a Piazza Duomo é um dos pontos mais movimentados da região. Além da suntuosa igreja, quem passa por lá pode ver o monumento equestre de Vittorio Emanuelle II, diversos cafés, lojas e restaurantes.
Piazza Scossavalli, Roma
Os processos de urbanização da cidade provocaram grandes revoluções arquitetônicas em Roma. Uma dessas mudanças foi o desaparecimento da Piazza Scossavalli. Foi completamente demolida em 1930, para dar lugar à Rua da Conciliação, que liga o Castelo de Santo Ângelo à Praça de São Pedro. Embora esteja, de fato, invisível, essa praça faz parte da mostra como exemplo de mudanças constantes em um organismo tão vivo quanto são as cidades.
Marco Delogu, o curador
Marco Delogu nasceu em Roma em 1960. Fotógrafo, curador e editor, vive e trabalha em Londres e na região de Maremma, na Toscana. Foi fundador do FOTOGRAFIA – Festival Internacional de Roma, o qual dirigiu em todas as suas 16 edições, entre 2002 e 2017. Atuou, ainda, como curador dos 18 projetos da Comissão Roma, idealizada por ele em 2003. Em 2006, fundou a editora Punctum. De 2015 a 2019, foi diretor do Instituto Italiano de Cultura de Londres. Exposições de seus trabalhos foram realizadas na Itália e no exterior, nos principais museus e galerias particulares – dentre os quais, Villa Medici, em Roma; Warburg Institute, em Londres; Galeria l’Attico, em Roma; e Multimedia Art Museum; em Moscou. Seus livros monográficos foram publicados pelas principais editoras italianas e estrangeiras, tais como Einaudi, E/O, Bruno Mondadori e Koenig Books.
Escritores
- Edoardo Albinati
- Carlo Carabba
- Francesco Cataluccio
- Liliana Cavani
- Benedetta Cibrario
- Marcello Fois
- Giovanni Grasso
- Helena Janeczek
- Nicola Lagioia
- Jhumpa Lahiri
- Margherita Loy
- Matteo Lafranconi
- Maurizio Maggiani
- Valerio Magrelli
- Salvatore Silvano Nigro
- Clio Pizzingrilli
- Elisabetta Rasy
- Eduardo Savarese,
- Caterina Serra,
- Giorgio van Straten
- Sandro Veronesi
- Francesco Zanot
- Joseph Rykwert
Fotógrafos
- Olivo Barbieri
- Jacopo Benassi
- Luca Campigotto
- Michele Cera
- Giovanni Cocco
- Alessandro Dandini
- Eva Frapiccini
- Claudia Gori
- Alice Grassi
- Stefano Graziani
- Raffaella Mariniello
- Daniele Molajoli
- Luca Nostri
- Margherita Nuti
- Francesca Pompei
- Flavio Scollo
- Luca Spano
- George Tatge
- Paolo Ventura