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O místico espetáculo de Edu e Chico

“O Grande Circo Místico” apresenta nova montagem com curta temporada no Cine Theatro



Créditos da imagem: Divulgação
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Musical de Chico e Edu ganha nova montagem
Redação Sou BH
04/12/14 às 20:26
Atualizado em 01/02/19 às 20:01

Por Camila de Ávila, jornalista do Sou BH

O Teatro em Movimento apresenta no Cine Theatro Brasil Vallourec a peça “O Grande Circo Místico”, entre os dias 17 e 19 de outubro.  Com texto de Newton Moreno e Alessandro Toller, inspirado no poema do alagoano Jorge de Lima, publicado em 1938, a peça apresenta personagens que prometem impressionar o público. A direção é de João Fonseca e direção musical de Ernani Maletta com canções de Edu Lobo e Chico Buarque. O musical é um clássico do gênero.

O poeta alagoano Jorge de Lima (1893-1953) contou uma história na qual amor, arte, e poesia são apresentados ao leitor de forma intensa no poema “O Grande Circo Místico”, publicado no livro “A Túnica Inconsútil”. Em 1982, a companhia de dança do Teatro Guaíra de Curitiba encomendou para o compositor carioca Edu Lobo músicas inspiradas neste poema. Lobo convidou Chico Buarque para fazer as letras. Nasceu aí um dos musicais mais importantes da música brasileira.

Segundo o diretor musical e maestro da peça, o belo-horizontino Ernani Maletta, “O Grande Circo Místico é indiscutivelmente umas das obras-primas, não apenas do Edu e do Chico, mas da música popular brasileira – para não dizer da música de um modo geral”, afirma.

A peça evidencia personagens marcantes como a equilibrista Beatriz e a prostituta Lily Braun, que tinha a santa ceia tatuada no ventre. Esta deu à luz a Margarete, que tinha a via-sacra tatuada no corpo, o trapezista Ludwig, que as gravuras sagradas afastavam a pele dela e o desejo dele. Tem também o homem mais forte do planeta, que se converteu e morreu.

Maletta diz que a delicadeza do repertório encanta há mais de 30 anos por ser carregado de sentimento e poesia. “Esse repertório é a expressão plena da beleza, que toca profundamente o nosso corpo em todos os sentidos. É a prova de que todos podemos experimentar um grande prazer quando entramos em contato com uma obra de arte, independentemente de uma compreensão racional de por que isso acontece”, explica. Ele acrescenta que a poesia de Chico Buarque “que reconta aquela do Jorge de Lima, consegue fazer a mesma coisa, por meio do quase impossível, isto é, ser ao mesmo tempo muito complexa e muito acessível, mostrando que a arte nos afeta para muito além da nossa capacidade de entender os porquês das coisas”, explica.

Em 2001, o coral mineiro Voz&Companhia regido por Maletta apresentou a obra Circo Místico na qual o maestro incorporou canções de outros musicais de Chico e Edu ao Grande Circo Místico. Uma delas foi “Salmo”, composta para o musical “O Corsário do Rei”. “A coincidência da presença de ‘Salmo’, tanto no espetáculo que criei com o Voz&Companhia quanto neste último que chega agora a Belo Horizonte, seria um dado curioso se não fosse a opinião unânime de que ela, independentemente da sua pertinência ao ‘Corsário do Rei’, foi também poeticamente composta para ‘O Grande Circo Místico’, exatamente por ser perfeita para compor o discurso de Margarete”.

Deve-se assistir a esta montagem sabendo que a história de Jorge de Lima ganhou alguns conflitos que não estão na versão original do poeta alagoano. “Há, sim, um grande conflito que sustenta a dramaturgia: a explosão de uma guerra, que não existe explicitamente na poesia do Jorge de Lima nem nas versões cênicas anteriores. A guerra de Newton e Toller é concreta e cruelmente explícita, e existe para desafiar a força da arte, representada pelo circo. É ela que provoca os nossos personagens a construir uma história que, para ser contada, exige a presença das canções. Ideia fantástica dos autores”, conta.

Além deste novo conflito no enredo, a trilha de Edu e Chico, que conta com 13 canções, teve a inclusão outras composições da dupla. “Quando tive o primeiro contato com o texto do Newton e Toller, antes de fazer a sua leitura, pensava que iríamos perder a unidade poética da obra, em especial pela ‘intromissão’ de outras canções que para mim, naquele momento, não tinham nada a ver. No entanto, após a primeira leitura, percebi o quanto eu estava preso à paixão que tinha pela forma original do Circo, o tanto que eu equivocadamente não estava considerando o grande talento dos autores da nova história, e do João Fonseca, na direção dessas novas ideias” explica.

Chico Buarque e Edu Lobo endossaram o novo formato. “Eles acompanharam todo o processo criativo, com muito cuidado, pois ‘O Grande Circo Místico’ é também muito precioso para eles. A emoção de ambos ao assistirem e aplaudirem o resultado final não deixa dúvida de que conseguimos atender às expectativas deles”, conta Maletta.

Para Maletta, Chico e Edu são uma das mais profícuas parcerias da música brasileira. “Eu, abusando da hipérbole que me é característica, realmente adoraria passar os próximos cem anos montando espetáculos de teatro sobre as obras criadas pela parceria Edu e Chico. Aproveito a oportunidade para lançar essa ideia para os possíveis patrocinadores desse grande projeto”, conclui.