Faça a sua parte, cara! Coletivo de homens discute assédio no carnaval
O grupo promove rodas de conversa, debates com mulheres e ações com blocos da capital para conscientizar os homens sobre o machismo
Os homens também podem fazer a parte deles para um carnaval mais
seguro para as mulheres. Essa é a ideia do coletivo MEN – Machismo Entre Nós.
Criado por belo-horizontinos que pretendem promover o diálogo entre os próprios
homens e deixar a folia – e o dia a dia – livres do assédio e do machismo, o
grupo já planejou ações para a festa de rua, como a distribuição de cartilhas com
dicas e alertas para os homens, além de parcerias com outros coletivos da capital
e cerca de 40 blocos de rua.
O encontro começou despretensioso, lá em agosto de 2018. Gustavo
Ribeiro, estudante de Direito e um dos idealizadores do projeto, queria propor uma
forma de alcançar os homens e promover o debate sobre temas como o assédio, o
machismo e a masculinidade tóxica em rodas de conversa leves e descontraídas.
“A ideia era criar um espaço de confiança e tranquilidade
para os homens expressarem em quê o machismo afeta a vida deles. A partir disso
a gente foi concebendo os principais pontos para serem debatidos. Tentamos tirar
esse silêncio do homem, que sempre foi educado a não falar sobre sentimentos e
angustias, e colocar o dialogo nessa equação”, comenta o estudante.
Tirando o machismo do
cotidiano
O objetivo das conversas é tirar os ‘caras’ da defensiva quando
o assunto é o comportamento do próprio homem. Por isso, são tratadas diferentes
temáticas, trazidas pelos próprios participantes.
“Falamos desde a divisão do trabalho em casa que sempre
conta com aquele ‘até que ajudo a minha companheira ou esposa’ e que a gente
busca mostrar o machismo nela, que o homem também tem a responsabilidade da manutenção
do espaço em que vive. Até questões mais densas, como perceber a violência e a
masculinidade tóxica em suas próprias atitudes”, pontua.
As reuniões tentam ser bem descontraídas e contam até mesmo
com aquela cervejinha no papo de ‘brother’. Mas, por trás do clima leve, os
assuntos sempre são levados muito a sério pelos participantes. Segundo Gustavo,
os encontros também podem ter acompanhamento de psicólogos para estabelecer vínculos
mais fortes com os homens e avançar a discussão para outros períodos além do
carnaval.
Para fazer bonito na
folia
Mesmo com o projeto de continuar com o debate, a primeira
parada dos ‘desconstruidões’ é o carnaval. Como Gustavo mesmo disse, o evento
será muito maior este ano e a expectativa de 4,6 milhões de pessoas é uma ótima
oportunidade de abortar a pauta do assédio e do machismo.
“Para o carnaval desse ano começamos com a campanha do Não Força
a Barra. Para as ações, na última quarta tivemos uma roda de conversa sobre
assédio e fizemos uma conversa mista com a presença das companheiras do Não é Não!.
E com esse espaço de fala da mulher, buscamos identificar o que é assédio e o
que é paquera. Queríamos escutar mesmo o que as mulheres têm para falar e
discutir como os homens podem intervir nessas situações”.
Falando, principalmente com as mulheres, sobre o que é o
assédio e a violência de gênero, o homem pode entender melhor como evitar essas
atitudes e impedir que os ‘parças’ e outros homens perpetuem isso. Mas sem se
colocar em perigo ou intervir de forma violenta, como aconselha Gustavo. “Desenvolvemos
uma série de dicas e sugestões com as mulheres e colocamos em cartilhas para os
homens entenderem e intervirem mesmo nessas situações. Saber como agir, sem violência,
para garantir o bem-estar da mulher”, conta o estudante de Direito.
O idealizador do projeto ainda comenta que serão feitos
outros materiais para divulgar nas redes sociais do coletivo e em cerca de 40
blocos. Tudo para criar elos com as baterias e os foliões, facilitando para
todos entenderem essa pauta e participarem da campanha.
E para quem quer
participar?
Quem quiser participar das reuniões e ações do grupo, é só
dar uma olhada na página do MEN e mostrar seu interesse. As reuniões estão
abertas para todos os homens que querem criar um diálogo sobre o machismo e
realmente fazer a diferença.
Já nesta quarta-feira (27), o grupo ainda vai participar de um encontro com os coletivos Não é Não! e Aura da Luta, a Guarda Municipal e a Delegacia Especializada de Combate à Violência Sexual. Na conversa serão discutidos os processos de segurança para este carnaval, serão abordados o assédio e a importunação sexual. Além de como encaminhar e agir com vítimas de algum tipo de violência, os locais que estão preparados para recebe-las e os postos-móveis que ficarão disponíveis durante a folia.
Acompanhe a cobertura do carnaval de Belo Horizonte no Sou BH com patrocínio do banco BS2 e apoio da Claro.