Cientistas alertam para risco de Chikungunya em áreas de mata
Já foram notificados 75 casos da doença em BH só neste ano
Belo Horizonte recebeu, só neste ano, 75 notificações de Chikungunya. Dos casos notificados, seis já foram confirmados, sendo três contraídos dentro do município, dois importados e um contraído em local indefinido. No ano passado, foram 29 casos confirmados.
Um alerta de cientistas brasileiros e franceses ressalta que o problema pode se tornar ainda maior. Segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), do Brasil, e o Instituto Pasteur, da França, o vírus da Chikungunya pode sair das cidades para as matas brasileiras, tornando-se silvestre e impossibilitando a erradicação da doença no país. O artigo foi publicado na revista científica internacional PLOS Neglected Tropical Diseases.
O processo seria semelhante
ao da febre amarela, doença de origem africana que se tornou endêmica no Brasil
e, de tempos em tempos, espalha-se das matas para áreas urbanas.
Na pesquisa coordenada pela
Fiocruz, os cientistas constataram que mosquitos silvestres como o Haemagogus
leucocelaenus e a Aedes Terrens, comuns na América do Sul, são
capazes de transmitir o vírus da Chikungunya entre três e sete dias,
o que significa alto potencial de disseminação.
Hoje, tanto a Chikungunya, também de origem africana, como a febre amarela são transmitidas no Brasil pelo mosquito Aedes Aegypti. As duas doenças provocam febres e fortes dores pelo corpo.
Nas cidades, o transmissor
da Chikungunya é o mosquito Aedes Aegypti, que se infecta
picando uma pessoa doente e transmitindo para outras pessoas. Na floresta
africana, onde foi identificada, os mosquitos silvestres contraem o vírus
picando macacos doentes. A infecção humana só ocorre por acidente, quando uma
pessoa é picada na mata.
Segundo o chefe do Laboratório de
Mosquitos Transmissores de Hematozoários do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) e
coordenador do estudo, Ricardo Lourenço de Oliveira, o avanço para áreas
silvestres torna o vírus mais difícil de ser enfrentado, podendo levar ao
aumento no número de casos. “Esse cenário apresentaria um grave problema de
saúde pública, uma vez que a infecção se tornaria mais difícil de controlar”,
afirma. Nas florestas, o combate ao mosquito é impossível.
Para os cientistas, é necessário
começar, o quanto antes, o monitoramento de regiões em áreas de mata. “É
fundamental incorporar o Chikungunya em uma rotina de vigilância no
ambiente silvestre”, diz Lourenço. Isso inclui a verificação de mosquitos e de
macacos para avaliar se a transmissão já está ocorrendo próximo a florestas e
monitorar esta possibilidade.
Para prevenir a migração da Chikungunya,
os cientistas querem mais estudos. Os mosquitos silvestres, explicam, não se
desenvolvem bem em laboratório, justamente por serem selvagens. Também não
ficou comprovado que macacos conseguem hospedar o vírus.
Com Agência Brasil